Monchique - Lugar de encontro entre a poesia e o medronho

Esté é um complemento ao blogue http://confrariadomedronhomonchique.blogspot.com
onde se publicarão poemas que se refiram a Monchique ou medronho. Está aberto á participação de poetas cujos poemas se enquadrem na regra estabelecida.
Para os poetas de Monchique, independentemente dos temas abordados, existe outro blogue: http://confrariadospoetasetrovadores.blogspot.com

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

LEONEL NEVES

Leonel Neves nasceu em Faro em 1921. Foi Técnico Superior do Serviço Meteorológico Nacional e autor de muitos livros para crianças. Na poesia a sua primeira publicação foi em 1940 "Janela Aberta" e a mais tarde, em 1968, publicou "Natural do Algarve", com prefácio de David Mourão-Ferreira. É deste segundo livro que extraímos um poema que tem a Serra de Monchique por tema.

CANÇÃO DA FOIA


No alto da serra
de Monchique não
há meta nem rota.
Acaba-se a Terra...
(A Terra é um pião
e a Fóia a carota.)


De longe é azul,
e ali terra seca,
deserta e parada.
A norte e a sul,
jardim e charneca
são terra, mais nada.


Serra de Monchique,
a mais linda que há
e mais fontes deu
- a quem suba e fique
na Fóia, dará
só pedras e céu.


Lá dormem as nuvens,
lá moram os ventos
e poisam estrelas;
lá, noite, tu vens
sem mãos nem unguentos,
sem frutos nem velas.


Mas de dia, quando
o sol traz com ele
os longes que viu,
o mar é tão grande
do alto daquele
mirante algarvio,


que lá vê a gente
a nau dos milagres
que é todo o Algarve e a
proa em São Vicente
e a bússula em Sagres...
(A Fóia é a gávea.)


Leonel Neves
in "Natural do Algarve"

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

PAULO ROSA (confrade)

AO MEDRONHO

Lá onde campeia a urze e o estevão
O alecrim, o trovisco e o rosmaninho
E a vida corre, corre, devagarinho
Tem a cepa mais eterna o seu cantão.


Com filhos ao colo de vária geração
Branco, verde, amarelo... O vermelhinho
Após ser destilado ao de mansinho
Transforma a realidade em ilusão.


Já foi fiança de pão, na serrania
E haja apanho ou não, é a valente
Que em casa do serrenho, é cortesia.


Tomada de supetão, ó aguardente
És mãe de bem-estar e alegria
E madrasta da paixão incontinente.

Paulo Rosa  (confrade)
(2010)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

AMÉRICO TELO (confrade)

DONA MELOSA


Melosa és muito famosa mas
sempre andaste a enganar-me,
de braço dado com o mel e
com o medronho a embebedar-me.


Por entre perfumes de canela,
o teu feitiço vem de mansinho,
com mil artes e sabores,
recordas-me o monte maninho.


E para te pores a jeito,
sem percalço ou condição,
trocas o passo à aguardente,
escondes-te no travo do limão.


Mas se pensas que me iludes,
lá por seres tão estouvada,
eu já vi muita donzela
andar com a vida trocada.


portanto


Melosa põe-te a preceito,
dá-me é mais gosto ao paladar
e, pelo mal que tens feito,
vamos os dois já brindar.

Américo Telo (2010)
(confrade)

sábado, 13 de agosto de 2011

JOSÉ DUARTE LIMA ELIAS

MONCHIQUE

Escondida entre serras alterosas
E cercada de matas seculares
Que exalam mil essências odorosas
Que tornam agradáveis os seus ares!

Ela produz as frutas saborosas
Em seus verdes, fresquíssimos pomares...
Róseas frutas, macias e sucosas
Que aprazem aos mais finos paladares.

Lá do cimo da Foia, serra ingente,
Onde brota a cantar constantemente
Um veio de água duma antiga fonte...

A nossa vista fica deslumbrada
Fitando a vastidão ilimitada
Do grandioso, pulquérrimo horizonte.

Petrónio (1)

(1) - Pseudónimo do poeta monchiquense José Duarte Lima Elias: Soneto publicado em 1 de Janeiro de 1932 no "Ecos da Serra", que se publicava em Saboia.